domingo, 17 de janeiro de 2021

 


Mercedes vermelha


"Naturalmente, nós todos caímos em

baixo-astral, é uma questão de
desequilíbrio químico
e uma existência
que, por vezes,
parece impossibilitar
qualquer chance real de
felicidade.

Eu estava num baixo-astral
quando um ricaço escroto
acompanhado de sua inexpressiva
namoradinha
numa Mercedes vermelha
cortou a minha frente
no estacionamento do hipódromo.

O estalo lampejou
no meu íntimo:
vou arrancar o filho da puta
de seu carro e
arrebentar a cara dele!
Segui o sujeito
até os manobristas,
estacionei atrás
e saltei do meu carro,
corri até a porta dele
e puxei.

Estava trancada.
As janelas estavam
levantadas.
Eu bati na janela
do lado dele:
“Abre! Eu vou
arrebentar a sua cara!”

Ele ficou sentado
olhando reto em frente.
A mulher dele fazia 
o mesmo.
Eles não me olhavam.

Ele era 30 anos mais novo,
mas eu sabia que podia
encarar, ele era molenga 
e mimado.

Eu bati na janela
com meu punho:
“Sai daí, seu merda,
ou eu começo a
quebrar o vidro!”

Ele acenou de leve a cabeça
para sua mulher.
Eu a vi estender o braço
abrir o porta-luvas
e passar para ele o 32.
Eu o vi segurar a arma
junto ao assento e soltar a
trava de segurança.

Fui andando 
em direção ao clube, 
o programa parecia
uma beleza naquele dia.
Tudo que eu precisava fazer
era estar lá."







Nenhum comentário:

Postar um comentário