"Tinha épocas que o melhor era ficar longe da máquina. Um bom escritor sabe quanto deve parar de escrever. Qualquer um é capaz de datilografar . E eu nem era um bom datilógrafo; era mau também em ortografia e gramática. Mas sabia quando deixar de escrever. Era que nem trepar. Você tinha de dar um tempo pra divindade de vez em quando."
sábado, 21 de agosto de 2010
domingo, 15 de agosto de 2010
"Eu era sensível a muitas coisas: um sapato de mulher debaixo da cama; o jeito delas dizerem "vou fazer xixi"; prendedores de cabelo; andar com elas pelos bulevares à 1:30 da tarde, só os dois, juntinhos; as longas noites bebendo, fumando, conversando; as brigas; pensar em suicídio; comer juntos e se sentir bem; as brincadeiras, as gargalhadas sem motivo; sentir milagres no ar; estar junto de manhã; ser avisado de que você ronca; ouvi-la roncando; mães, filhas, filhos, gatos, cachorros; ás vezes morte; às vezes divórcio, mas sempre tocando pra frente, sempre chegando ao ponto final; ler um jornal sozinho numa lanchonete, nauseado pelo fato de ela ter se casado com um dentista de QI 95; pistas de corridas, parques, piqueniques nos parques; até prisões; os amigos chatos dela, os seus amigos chatos; seus porres, a dança dela; seus flertes, os flertes dela; as pílulas dela, as suas trepadas fora do penico, ela fazendo o mesmo; dormir juntos."
"Nunca fui elegante. Minhas camisas eram todas desbotadas, encolhidas, surradas, e já tinham cinco ou seis anos. Minhas calças, a mesma coisa. Detestava as grandes lojas, detestava os vendedores, eles se faziam de superiores, pareciam conhecer o sentido da vida, tinham uma segurança que me faltava. Meus sapatos eram sempre velhos e estropiados, e eu detestava lojas de sapatos também. Nunca comprava nada de novo, a menos que as minhas coisas já estivessem completamente inutilizadas - automóveis inclusive. Não era questão de economia; é que eu não era tolerava ser um comprador na dependência dos vendedores, aqueles caras tão altivos e superiores. Além disso, eu perdia tempo, um tempo em que eu podia muito bem estar de papo pro ar, bebendo."
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
"Por que eu não podia simplesmente ser um cara assistindo a um jogo de beisebol? Interessado no resultado. Por que não podia ser um cozinheiro fritando ovos, desligado? Por que não podia ser uma mosca no pulso de alguém, rastejando sublime e interessada? Por que não podia ser um galo num galinheiro, catando milho? Por que aquilo? "
domingo, 1 de agosto de 2010
"Acordei deprimido. Fiquei olhando para o teto, as rachaduras do teto. Vi um búfalo saltando alguma coisa. Acho que era eu. Aí vi uma serpente com um rato na boca. O sol aparecia nas frestas da persiana e formava uma suástica em minha barriga. A bunda coçava. Estariam voltando as hemorróidas? O pescoço duro, a boca com gosto de leite talhado."
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