terça-feira, 29 de setembro de 2009






A vida começa aos 50

"Ali estava eu, com 55 anos, e sem uma panela para aparar a chuva. Meu pai me avisara que eu ia acabar definhando na varanda dos fundos de algum estranho no Arkansas. E eu ainda tinha tempo pra chegar lá."

segunda-feira, 28 de setembro de 2009





Sugador Cerebral



"Marie estendeu o braço, ligou a televisão e depois foi pro banheiro. Tive que ficar ouvindo a tevê. Gente de papel. Gente de vidro. Outro noticiário. Um cretino, feio de assustar, 3 narinas. Um cretino detestável pra burro, todo embonecado, suando, e olhando pra mim, pronunciando palavras que eu mal entendia ou pouco me interessavam. Tive a impressão de que estava enlouquecendo e terminei desligando. Tomei mais um pouco de cerveja. Quando voltou do banheiro, me encontrou de olhar parado no copo. Ficou mais sossegada. Parecia até inofensivo como um homem que gosta de jogar damas e de ler a página de esportes no jornal."





A Farsa

"Levantei e me aproximei da janela dos fundos. A parte traseira do hotel ficava bem perto da saída pra Vermont na pista de alta velocidade de Hollywood. Olhei os faróis e as luzes vermelhas dos carros. Sempre me espantava que tanta gente tivesse pressa de ir numa direção enquanto outros se apressavam em chegar na direção oposta. Alguém devia estar enganado, senão aquilo não passava de uma farsa."



Boxers...

"A galera adorava nocautes. Eles berravam quando um dos lutadores estava a ponto de beijar a lona. Eram eles que disparavam aqueles golpes. Na certa, estavam esmurrando seus patrões e esposas. Quem sabe? Quem se importa? Mais cerveja. A segunda luta foi boa também. A galera berrava e urrava e se empapuçava de cerveja. Eles tinham fugido provisoriamente das fábricas, armazéns, matadouros, postos de gasolina, e estariam de volta ao cativeiro no dia seguinte. Mas, agora, estavam fora, embriagados com a liberdade. Não estavam pensando na pobreza nem na escravidão. Nem na humilhação da pensão-desemprego e das cotas alimentares. Nós, os de lado de cá, estaremos bem até o dia em que os pobres descobrirem como fazer bombas atômicas no porão de casa."

sexta-feira, 25 de setembro de 2009







Mulheres...

"Tinha acabado um caso complicado com uma fulana que me deixou bastante arrasado. Os casamentos, as amigações, as trepadas passageiras deixara-me a sensação de que o ato sexual não compensava o que a mulher exigia em troca. Agora, desistindo de uma companheira fixa, me masturbava com frequência. Perdi, por uns tempos, toda a disposição pra mulher. Em troca, me concentrei em apostar nos cavalos, socar punheta e beber. Pra usar de franqueza, me senti bem mais feliz desse jeito. E cada vez que me entregava a cada uma dessas três distrações, pensava, chega de mulheres, nunca mais, fodam-se. É claro que sempre aparecia uma nova - elas caçam a gente, por mais indiferente que se seja. Acho até que, quanto maior a indiferença demonstrada, maior a insistência - é o prazer da vitória. Mulher gosta muito desses lances; quando vê resistência, trata logo de encontrar uma brecha."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009




Sinta mais, pense menos...

"Somos finos como papel. Existimos por acaso entre as percentagens, temporariamente. E esta é a melhor parte, o fator temporal. E não há nada que se possa fazer sobre isso. Você pode sentar no topo de um montanha e meditar por décadas e nada vai mudar. Você pode mudar a si mesmo para ser aceitável, mas talvez isso também esteja errado. Talvez pensemos demais. Sinta mais, pense menos."




Analista Econômico  

"A economia. As coisas estão piores do que o governo ou a imprensa admitem. Aqueles que ainda estão vivos na economia se calam. Imagino que o maior negócio é a venda de drogas. Diabos, acabem com isso e quase todos os jovens vão ficar desempregados. Eu ainda sobrevivo como escritor, mas isto pode acabar da noite para o dia. Bem, ainda tenho minha pensão de idoso: US$ 943.00 por mês. Eles me deram isso quando fiz 70 anos. Mas isso também pode terminar. Imaginem todos os velhos perambulando pelas as ruas sem suas pensões. Não ignorem esta possibilidade. A dívida nacional pode nos puxar para baixo como um polvo gigante. As pessoas vão estar dormindo nos cemitérios. Ao mesmo tempo, há uma crosta de ricos que vivem acima da podridão. Isto não é incrível? Algumas pessoas têm tanto dinheiro que nem mesmo sabem quanto têm. E estou falando de milhões. E olhe para Hollywood, lançando filmes de 60 milhões de dólares, tão idiotas quanto os pobres bobos que vão assisti-los. Os ricos ainda estão lá, sempre encontram uma forma de mamar no sistema."



Facilidades da vida "moderna"

"O computador veio outra vez da oficina, mas não corrige mais a ortografia. Tentei de tudo para descobrir por quê. Provavelmente terei que ligar para a loja e perguntar para o cara: " - O que faço agora?". E ele vai dizer alguma coisa como: "Você vai ter que transferir os arquivos do disco principal para o disco rígido". Provavelmente, vou acabar apagando tudo..."

sábado, 19 de setembro de 2009






Declínio e Queda do Ocidente

"Talvez a miséria tenha realmente chegado. Não se pode viver da própria alma. Não se pode pagar o aluguel com a alma. Experimente fazer isso algum dia. É o início do Declínio e Queda do Ocidente, como Splenger dizia. Todo mundo é tão ganancioso e decadente, a decomposição realmente começou. Eles matam gente aos milhões nas guerras e dão medalhas por isso. Metade das pessoas deste mundo vai morrer de fome enquanto a gente fica por aí sentado vendo TV."





Bukowski, "o mestre da sedução"

"As mulheres são mais fortes que os homens. Elas conhecem todas as jogadas. E a maioria dos homens não conhece nenhuma. Eu dou alma a elas. Isso não pode ser medido em centímetros. Não tem aprendizado. É um instinto. Você tem de saber o que a mulher está dizendo de fato quando diz outra coisa. Não se pode ensinar. Sabe, cada jogada dela deve ser respondida com a resposta certa. Cada resposta certa leva o papo numa outra direção, até que o sedutor tem a mulher acuada num canto, ou mais adequadamente, estendida. Trocando em miúdos: ou você chupa xoxota como um homem ou procura um emprego.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009






Raspas e restos me interessam...


"De noite ficávamos de fogo outra vez. Quem é pobre, que pode fazer? Mulher não procura operário comum; só quer saber de médico, cientista, advogado, empresário, e por aí afora. A gente pega o que eles refugam, quando já estão velhas - tendo que se contentar com as sobras, disformes, doentes e débeis mentais. Depois de algum tempo, em vez de topar o que vem de segunda, terceira e quarta mão, a gente desiste. Ou pelo menos faz força pra desistir. A bebida ajuda."




Textos incendiários

"Algumas vezes com meu texto, quando não foi extraordinário, tentei outras coisas. Derramei vinho nas páginas, acendi um fósforo e queimei buracos nelas.
- O que você está fazendo aí? Sinto cheiro de fumaça!
- Tudo bem, querida, está tudo bem..."





Passatempos

"O que os escritores fazem quando não estão escrevendo? Eu vou ao hipódromo. Nos meus primeiros tempos, ou passava fome ou trabalhava em empregos de revirar o estômago."





Numerologia

"Quando as mulheres ficam mais velhas, trocam de nome. Quero dizer, muitas fazem isso. Imagine se um homem fizesse isso. Conseguem me imaginar telefonando para alguém:
"Ei, Mike, aqui é o Tulipa".
"Quem?"
"Tulipa. Antes era Charles, mas agora é Tulipa. Não vou mais atender ao nome Charles"
"Vá se foder"
Mike desliga..."



quarta-feira, 16 de setembro de 2009





Manteiga

"Ele não tinha certeza de que amava Gwen, mas viver com ela era confortável. Ela cuidava de todos os detalhes, e os detalhes era que punham um homem doido. Ele passou bastante manteiga na torrada. Manteiga era um dos últimos luxos do homem. Os automóveis um dia iam ficar caros demais para se comprar, e todo mundo simplesmente iria ficar sentado comendo manteiga e esperando. Os Filhos de Jesus que falavam do fim do mundo pareciam melhores a cada dia."



Por quê você bebe tanto?

- Não estaria vivo sem isso...

domingo, 13 de setembro de 2009




A praia

"Fomos dar uma volta na praia. Tinha dois tipos de turistas: ou muito jovens ou muito velhos. Os velhos andavam aos pares, homem e mulher, de sandálias, viseiras, chapéus de palha, shorts e camisas de cores espalhafatosas. Eram gordos e pálidos, com veias azuis salientes nas pernas., e suas caras inchadas e brancas sob o sol. Sobravam por todos os lados, papas e pelancas pendentes das bochechas e debaixo dos queixos. Os jovens eram magros e pareciam feitos de borracha mole. As garotas não tinham peitos nem bunda e os garotos tinham caras ternas e suaves e sorriam e coravam e gargalhavam. Todos pareciam contentes da vida, ginasianos e velhotes. Não tinham muito o que fazer, mas passeavam sob o sol e pareciam satisfeitos. "




Mania de Limpeza

" A primeira coisa que eu gostei em você - disse Lydia - é que não tinha TV em sua casa. Meu ex marido via TV toda noite e durante o fim de semana todo. A gente tinha até que planejar nossas trepadas de acordo com a programação da TV. - Hummm... - Outra coisa que eu gostei na sua casa é a imundície. Garrafas de cerveja espalhadas pelo chäo, montes de lixo por tudo quanto é canto, pratos sujos e uma coroa de merda na privada e a craca na banheira e todas aquelas giletes enferrujadas em volta da pia do banheiro. Eu sabia que você era capaz de chupar uma xoxota.
- Você julga um homem pelo lugar que ele vive, né?
- É . Quando vejo um homem de casa arrumada eu sei que tem alguma coisa errada com ele. E se for muito arrumada então, eu já sei que o cara é bicha."

quinta-feira, 10 de setembro de 2009





Bar Fly

"Eu já andava chateado com os bares na época - todos aqueles bobalhões solitários torcendo pra que de repente entrasse uma mulher e carregasse eles pra terra das maravilhas. Os dois tipos mais nauseabundos de gente que existem são os frequentadores de hipódromo e bares, e me refiro sobretudo ao lado masculino da coisa. Aos perdedores, aos que perdem sem parar e não são capazes de oferecer resistência e se recuperar. O que não me excluía dessa classificação: lá estava eu, bem no meio do grupo."


Até que a Morte os Separe...

"E amor, pensando bem, não passa de uma espécie de palavrão. Mas tinha qualquer coisa a ver com o que existia entre Linda e eu - amor. Era por isso que a gente sofria privações lado a lado, e bebia e morava junto. O que significava o casamento? Apenas uma FODA santificada e toda FODA santificada, sempre, em última análise, acaba infalivelmente, ficando CHATA, se transformando em OBRIGAÇÃO. Mas é isso mesmo que o mundo quer; algum pobre filho da puta, encurralado e infeliz, com uma obrigação a cumprir. Ora, que merda, era melhor me mudar para a parte mais pobre da cidade e Linda passar a morar com BIG Eddie. Big Eddie podia ser idiota, mas pelo menos lhe compraria roupas e lhe poria alguns bifes no estômago. Bem mais do que eu estava em condições de fazer."

quarta-feira, 9 de setembro de 2009




Vida animal

"Passávamos boa parte do dia no parque, olhando os patos. Quando se fica com a saúde abalada de tanto beber e de não ter comida decente para comer, e já se anda exausto de foder para tentar esquecer, não há nada como patos. Podes crer, quero dizer que é preciso sair um pouco de casa, senão você acaba numa fossa danada e não demora está também saltando da janela.
Linda e eu, portanto, sentávamos num banco e olhávamos os patos. Os desgraçados não tinham absolutamente nada para se preocupar - sem problemas de aluguel, ou de roupa, e comendo até dizer chega - passavam o tempo todo deslizando em cima da água, de um lado para o outro, cagando e grasnando. Mastigando, mastigando, se empanturrando sem parar."


Ah! Liga vai...

"Liguei a televisão. Passava um comercial. Solitário? Deprimido? Alegre-se. Ligue para as nossas lindas garotas. Elas querem falar com você. Pague com o seu cartão de crédito MASTER ou VISA. Fale com Kitty, France ou Bianca. Telefone 0800-435-8745.
Apareciam as meninas. Kitty era a melhor. Tomei um gole de uísque e disquei o número.
- Sim? - era a voz de um homem. Parecia mau.
- Kitty, por favor.
- Você é maior de 21 anos?
- Maior - eu disse.
- Master ou Visa?
- Visa.
- Me dá teu número do cartão e a data de validade. Também endereço, número de telefone, identidade e carteira de motorista.
- Ei, como vou saber que você não vai usar essa informação pra você mesmo? Quer dizer, me fodendo? Usando a informação pra seu próprio lucro?
- Ei, meu camarada, quer ou não quer falar com Kitty?
- Acho que sim...
- A gente anuncia na televisão. Estamos neste negócio há dois anos.
- Está bem, deixa eu pegar os cartões na carteira.
- Camarada, se você não quer a gente, a gente não quer você.
- Sobre o que a Kitty vai falar comigo?
- Você vai gostar.
- Como sabe que eu vou gostar?
- Ei, camarada...
- Está bem, está bem, espere um momento...
- Dei a ele a informação. Houve uma pausa longa, enquanto conferiam o meu crédito. Aí ouvi uma voz.
- Fala, gostoso, aqui é Kitty.
- Alô, Kitty, meu nome é Nick.
- Oooh, sua voz é tão sexy! Já estou ficando tesudona!
- Não, minha voz não é sexy.
- Oh, você é tão modesto...
- Não, Kitty, não sou modesto...
- Sabe de uma coisa? Eu me sinto tão perto de você! Parece que estou enroscada, sentada no seu colo, olhando nos seus olhos. Tenho olhos grandes e azuis. Você está bem perto, querendo me beijar.
- Isso é bobagem, Kitty. Estou aqui escutando a chuva cair e mamando meu uísque escocês.
- Ouça, Nick, precisa usar um pouco a imaginação. Vamos tentar e você vai ficar surpreso com o que pode conseguir. Não gosta da minha voz? Não acha ela um pouco...ah, sexy?
- É, um pouco, mas não bastante. Parece resfriada. Está resfriada?
- Nick, Nick, meu garoto. Eu sou quente demais pra ficar resfriada!
- Como?
- Eu disse que sou quente demais pra ficar resfriada!
- Bem, parece resfriada. Talvez fume demais.
- Eu só fumo uma coisa, Nick!
- O que, Kitty?
- Você não imagina?
- Não...
- Olhe pra você mesmo, Nick.
- Tudo bem.
- Que está vendo?
- Bebida. O telefone.
- Que mais, Nick?
- Meus sapatos...
- Nick, que coisa grande é essa se projetando de você enquanto fala comigo?
- Ah, isso? É minha barriga!
- Continue falando comigo, Nick. Continue ouvindo minha voz, pense em mim no seu colo, o vestido levantando, mostrando meus joelhos e minhas coxas. Eu tenho cabelos louros, compridos. Pense nisso tudo, Nick, pense em...
- Tudo bem...
- Tudo bem, que está vendo?
- A mesma coisa: telefone, meus sapatos, minha bebida, minha barriga...
- Nick, você é mau! Me dá vontade de ir aí e lhe da uma surra. Ou talvez deixe você me dar uma surra!
- Quê?
- Me bate, me bate, Nick!
- Kitty...
- Sim?
- Me desculpa um momento? Preciso ir ao banheiro.
- Oh, Nick, sei o que fazer! Mas não precisa ir ao banheiro pra fazer isso, pode fazer no telefone, enquanto fala comigo!
- Não dá, Kitty. Preciso mijar.
- Nick - ela disse - pode considerar nossa conversa terminada!
- Desligou.
Fui ao banheiro e urinei. Enquanto urinava, ainda ouvia a chuva caindo. Bem, tinha sido uma conversa idiota, mas, pelo menos, tirara meus pensamentos dos problemas e de outros assuntos. Dei descarga, lavei as mãos, olhei no espelho, pisquei para mim mesmo e voltei para tomar outro uísque."





Yes, We Can


"Eu acho que não mereço morrer pelas mão de um negro, apesar de achar que tem muito branco por aí, de mentalidade mórbida, que gosta de se imaginar nessa situação, quer dizer ELES querem morrer pelas mãos de um negro. Mas, também acho que uma das melhores coisas da Revolução Negra é que eles estão fazendo força; a maioria de nós, brancos de bunda mole, inclusive eu, já desistiu de tentar."

terça-feira, 8 de setembro de 2009





Panelinhas Literárias

" Pedi pra Dee Dee para ir num bar. Escolheu um da moda. O barman a cumprimentou. - Isso aqui - disse ela quando entramos - é frequentado por uma patota de roteiristas. E também por um pessoalzinho de teatro. Detestei todos eles logo de cara, ali sentados posando de espertos e superiores. Um anulava o outro. A pior coisa pra um escritor é conhecer outro escritor, e pior ainda, é conhecer uma penca de escritores. Um bando de moscas em cima da mesma merda."



Dor de Cotovelo

" Dony me trouxe o drinque e ficou conversando com Dee Dee. Eles pareciam conhecer as mesmas pessoas. Eu não conhecia ninguém. Custou pra eu me interessar pelo papo. Não ligava pra quilo. Não gostava de Nova Iorque. Não gostava de Holywood. Não gostava de rock. Não gostava de nada. Vai ver, eu estava com medo. É isso: eu tinha medo. Eu queria ficar sozinho no quarto com a janela fechada. Fiquei curtindo essa idéia. Eu era um trambolho. Eu era um lunático. E Lydia tinha ido embora."



Fins de Semana

" A manhã já ia alta , num sábado. Eu não tinha dormido com Lydia a noite anterior. Tomei um banho e uma cerveja, me vesti. Eu detestava fins de semana. Todo mundo nas ruas. Todo mundo jogando pingue-pongue ou cortando grama ou polindo o carro ou indo no supermercado ou á praia ou a parque. Multidões em toda parte. Segunda-feira era o meu dia preferido. Todo mundo de volta ao trabalho e fora de vista."




Potencial

" Isso de potencial, não quer dizer nada. Você tem que realizá-lo. Qualquer bebê abandonado numa caixa de sapato tem mais potencial que eu."

domingo, 6 de setembro de 2009






Bukowski, um gênio?

"Olha, pra falar com franqueza, não sei. A maior parte do tempo me sinto meio debilóide. Como se tivesse a cabeça cheia de ar."





Viagens Espaciais

" - O que você acha das viagens espaciais pra lua?
- Uma merda, quem está fodido na Terra também vai se foder na Lua. Não faz diferença."





Ditados Populares

"Os Humildes Herdarão a Terra"... isso, traduzindo em miúdos, significa que os burros tem mais persistência.

sábado, 5 de setembro de 2009







A Espera

"Andei até a livraria me sentindo meio deprimido. O homem nascia pra morrer. O que significava isso? Ficar por aí esperando. Esperando o " Trem A". Esperando um par de peitões numa noite de agosto num quarto de hotel de Las Vegas. Esperando o rato cantar. Esperando a cobra criar asas. Por aí."





Instinto Animal

"Sexo era um alçapão, uma armadilha. Era para animais. Eu tinha juízo demais para esse tipo de merda. Começava a me sentir estranho. Qual era o problema? Estaria a dama me excitando? Ela tinha intestinos como todo mundo. Tinha pelos nas narinas. Cera nas orelhas. Qual era a grande coisa?"




Que fogueira é essa?
Estamos na Inquisição?



- Sente-se Stirkof
- Obrigado, senhor.
- Muito gentil de sua parte, senhor.
- Stirkof, eu compreendo que você anda escrevendo artigos sobre a justiça, a igualdade; também sobre o direito à felicidade e à sobrevivência. Stirkoff??
- Sim, senhor?
- Você acha que existirá algum dia uma justiça soberana e sensível no mundo?
- Na realidade não, senhor.
- Então por que você escreve essa merda? Você não está se sentindo bem?
- Eu venho me sentindo meio estranho ultimamente, senhor, quase como se estivesse ficando louco.
- Você anda bebendo muito?
- É claro, senhor.
- E você se masturba?
- Constantemente senhor.
- Como?
- Eu não compreendo, senhor.
- Eu me refiro a como você faz a coisa.
- Quatro ou cinco ovos crus e meio quilo de hamburguer num vaso de flores de gargalo estreito ouvindo Vaughn Williams ou Darius Milhaud.
- Vidro?
- Não, bunda, senhor.
- Eu me refiro ao vaso, é de vidro?
- É claro que não, senhor.
- Você alguma vez já foi casado?
- Muitas vezes, senhor.
- O que aconteceu de errado?
- Tudo, senhor.
- Qual a melhor trepada da sua vida?
- Quatro ovos crus e meio quilo de hamburguer num...
- Tudo bem, tudo bem!
- Mas é verdade.
- Você se dá conta que o seu desejo ardente de justiça e de um mundo melhor é apenas uma fachada para ocultar a decadência, a vergonha e o fracasso que residem dentro de você?
- Há, há.
- Você teve um pai depravado?
- Eu não sei senhor.
- O que você quer dizer com você não sabe?
- Quero dizer que é dificíl de comparar. O senhor vê, eu só tive um.
- Tá tentando bancar o esperto comigo, Stirkoff??
- Oh, não, senhor como o senhor disse, a justiça é impossível.
- Seu pai batia em você?
- Eles se revezavam.
- Pensei que você tivesse apenas um pai.
- Todo homem tem. O que eu quero dizer é que a minha mãe também dava as dela.
- Ela amava você ?
- Somente como uma extensão de si mesma.
- O que mais pode ser o amor?
- O senso comum de querer muito alguma coisa muito boa. Não precisa estar relacionado por laços de sangue. Pode ser uma bola de praia vermelha ou uma fatia de torrada com manteiga.
- Você está querendo dizer que você pode amar uma fatia de torrada com manteiga?
- Somente algumas, senhor. Em determinadas manhãs. Sob determinados raios de sol. O amor chega e vai embora sem avisar.
- É possível amar um ser humano?
- É claro, especialmente se você não os conhecer muito bem. Eu gosto de olhar para eles através da minha janela, caminhando na rua.
- Stirkoff, você é um covarde?
- É claro, senhor.
- Qual a sua definição de um covarde?
- Um homem que pensaria duas vezes antes de lutar com um leão com as mãos nuas.
- E qual a sua definição de um homem corajoso?
- Um homem que não sabe o que é um leão.
- Qualquer homem sabe o que é um leão.
- Qualquer homem pensa que sabe.
- E qual é a sua definição de um tolo.
- Um homem que não se dá conta que o Tempo, a Estrutura e a Carne em sua maior parte se desgastam.
- Então quem é que é sábio?
- Não existe nenhum sábio, senhor.
- Então não pode haver nenhum tolo. Se não existe noite não pode existir dia; se não existe branco não pode existir preto.
- Sinto muito, senhor. Eu pensava que tudo era o que era, não dependendo de qualquer outra coisa.
- Você andou metendo o seu pau em vasos de flores demais. Será que você não compreende que TUDO está certo, que nada pode andar errado?
- Eu compreendo, senhor, que o que acontece, acontece.
- O que é que você diria se eu tivesse que mandar decapitá-lo?
- Eu não seria capaz de dizer coisa alguma, senhor.
- Eu quis dizer que se eu quisesse mandar decapitar você eu permaneceria a Vontade e você se transformaria em Nada.
- Eu me transformaria em outra coisa.
- À minha escolha.
- De acordo com ambas as nossas escolhas, senhor.
- Relaxe! Relaxe! Espiche as pernas.
- Muito gentil de sua parte, senhor.
- Não, muito gentil de ambas as partes.
- Naturalmente senhor.
- Você diz que frequentemente sente essa loucura. O que você faz quando ela se apodera de você?
- Escrevo poesia.
- A poesia é loucura?
- Não-poesia é loucura.
- O que é loucura?
- Loucura é feiúra.
- O que é feio?
- Para cada homem, uma coisa diferente.
- A feiúra é conveniente?
- Ela esta aí.
- Ela é conveniente?
- Eu não sei, senhor.
- Você aspira ao conhecimento. O que é conhecimento?
- Conhecer o mínimo possível.
- Como é que pode ser isso?
- Eu não sei, senhor.
- Você pode construir uma ponte?
- Não, senhor.
- Você pode fabricar uma arma?
- Não, senhor.
- Estas coisas são produtos do conhecimento.
- Estas coisas são pontes e armas.
- Eu vou mandar decapitá-lo.
- Obrigado, senhor.
- Por quê?
- O senhor é a minha maior motivação quando eu tenho tão pouca.
- Eu sou a Justiça.
- Talvez.
- Eu sou o Vencedor. Eu vou fazer com que você seja torturado, eu vou fazer você gritar. Eu farei você desejar a Morte.
- Naturalmente, senhor.
- Será que você não se dá conta que eu sou o seu senhor?
- O senhor é o meu manipulador; mas não há nada que o senhor possa fazer a mim que não possa ser feito.
- Você pensa que fala inteligentemente, mas com os seus gritos você não dirá nada inteligente.
- Eu duvido, senhor.
- Por falar nisso, como é que você pode escutar Vaughn Williams e Darius Mihaud? Nunca ouviu falar nos Beatles?
- Oh, senhor, todo mundo já ouviu falar dos Beatles.
- Você não gosta deles?
- Eu não desgosto deles.
- Você desgosta de algum cantor?
- Cantores não podem ser desgostados.
- Então, qualquer pessoa que tenta cantar?
- Frank Sinatra.
- Por quê?
- Ele evoca uma sociedade doente para uma sociedade doente.
- Você lê algum jornal?
- Apenas um.
- Qual?
- OPEN CITY.
- GUARDA! LEVE ESTE HOMEM PARAS AS CÂMARAS DE TORTURA IMEDIATAMENTE E DÊEM INÍCIO AOS PROCEDIMENTOS!
- Senhor, um último pedido.
- Sim.
- Posso levar meu vaso de flores comigo?
- Não, eu vou usar ele.
- Senhor?
- Quer dizer, eu vou confiscá-lo. Agora, guarda, leve esse idiota daqui!
- E, guarda, volte com, volte com...
- Sim, senhor?
- Uma meia dúzia de ovos crus e alguns quilos de carne moída...
Saem o guarda e o prisioneiro. O rei inclina-se para a frente, sorri maliciosamente enquanto Vaughn Williams vai se insinuando pelo sistema de comunicação. Lá fora, o mundo movimenta-se para frente enquanto um cão infestado de pulgas mija num lindo limoeiro vibrando sob o sol.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009





Globalização

"Hoje, as coisas estão em banho-maria. Sete mil pessoas em um grande hipódromo numa tarde ensolarada. Ninguém no bar. Apenas um solitário barman segurando uma toalha. Onde estão as pessoas? Há mais pessoas do que nunca, mas onde estão elas? Paradas numa esquina, sentadas numa sala. O Bush pode ser reeleito porque ganhou uma guerra fácil. Mas ele não fez nada pela economia. Você nem mesmo sabe se seu banco vai abrir amanhã. Não quero ficar me lamentando. Mas você sabe, nos anos 30 pelo menos todo mundo sabia onde estava. Hoje, é um jogo de espelhos. E ninguém tem bem certeza do que o sustenta. Ou para quem estão trabalhando na verdade. Se estiverem trabalhando. Merda, tenho que sair disso. Ninguém parece estar se importando com o estado de coisas. Ou se está, está em algum lugar que ninguém consegue ouvi-lo."






Unhas

"Sei que são só as unhas dos pés, mas não consigo achar tempo para cortá-las. Estou sempre atrasado, não tenho tempo para nada. Claro, se eu pudesse ficar longe do hipódromo teria tempo de sobra. Mas toda a minha vida tem sido uma questão de lutar por uma simples hora para fazer o que eu quero fazer. Tem sempre alguma coisa atrapalhando a minha chegada a mim mesmo. Sim, eu sei que tem pessoas morrendo de câncer, que tem pessoas dormindo nas ruas, em caixas de papelão, e eu fico falando em cortar minhas unhas. Ainda assim, provavelmente estou mais perto da realidade do que um panaca que assiste a 162 jogos de baseball por ano. Estive em meu inferno, estou no meu inferno, não me acho superior. O fato de estar vivo com 71 anos e falando sem parar sobre minhas unhas dos pés é milagre suficiente pra mim."




Filósofos

"Gosto da forma com que os filósofos destroem conceitos e as teorias que os precederam. Isso tem acontecido há séculos. Não, não é assim, dizem. É desse jeito. Isto continua sem parar e parece lógica, esta continuidade. O principal problema é que os filósofos devem humanizar sua linguagem, torná-la mais acessível, então os pensamentos se iluminam mais, ficam mais interessantes. Acho que estão aprendendo a fazer isso. A simplicidade é essencial."

quarta-feira, 2 de setembro de 2009






Bravura e Patriotismo

"- Não quer ir pra guerra?
- Não.
- Mas eles bombardearam Pearl Harbor.
- Ouvi falar.
- Não quer combater Adolph Hitler?
- Não muito. Prefiro deixar pros outros.
- É covarde, então.
- Sou, sim. E não é tanto que me incomode de ter que sair matando gente por aí, mas não me agrada dormir em uma caserna com uma porção de caras roncando e depois acordando por um saco de corneteiro burro que levantou de pau duro, e não gosto de usar aquela bosta de farda cor de oliva, que só serve pra dar comichão. Minha pele é muito sensível.
- Ainda bem que alguma coisa é.
- Também acho, apenas gostaria que não fosse a pele.
- Por que não escreve com ela?
- E você, por que não escreve com sua xota?
- Você é asqueroso. E covarde, ainda por cima. Alguém tem que lutar contra as hordas fascistas. Sou noiva de um tenente da marinha americana e, se agora ele estivesse aqui, ia te esfolar vivo.
- É bem provável, o que só serviria pra me deixar mais asqueroso ainda.
- Pelo menos aprenderia a ser mais educado com as pessoas dignas de respeito.
- Creio que você tem razão. E se eu matasse o Mussolini, seria uma prova de boa educação.
- Lógico."

terça-feira, 1 de setembro de 2009






Leitura Dinâmica

"Uma batida na porta. Não, foram cinco batidas rápidas, fortes, insistentes. Sempre faço uma leitura das batidas. Ás vezes, quando a leitura é ruim, não atendo. Aquela era meio ruim.
A porta escancarou-se. Era um homem, cinquentão, meio rico, meio nervoso, pés grandes demais, verruga no alto esquerdo da testa, olhos castanhos, gravata. Dois carros, duas casas, sem filhos. Piscina e spa, jogava na bolsa e era bastante burro."




Glamour e o Brilho das Luzes

"Eu começava a ficar deprimido. Minha vida não estava indo para lugar algum. Precisava de alguma coisa, o brilho das luzes, glamour, alguma porra. E ali estava eu, convivendo com os mortos. Não sabia se voltava para casa ou para o escritório. Acabei num supermercado empurrando um carrinho. Comprei cinco grapefruits, um frango assado e um pouco de salada de batata. Um quinto de vodca e papel higiênico."


Pernas

"De algum modo me perdi, os olhos grudados nas pernas dela. Sempre fui de perna. Foi a primeira coisa que vi quando nasci. Mas então eu tentava sair. Desde então, tenho me virado no sentido contrário, e com um azar dos diabos."