terça-feira, 29 de setembro de 2020








Contagem Regressiva 


"Restam dez minutos para colocar as palavras
no papel
Por que não?
Já bati muitos relógios de ponto.
Não tenho conseguido dormir
o suficiente.
No dia seguinte dirijo pela auto-estrada
sempre vivaz,
mas mais tenso,
não suportando os outros motoristas.
Jeito medíocre de começar um dia maldito
vou para debaixo dos cobertores
antes da uma da manhã essa noite.
Sete minutos restam para colocar as palavras no papel.
Suponha que sejam os últimos sete
minutos da minha vida,
o que eu diria?
Nada.
Com certeza.
A morte nunca foi o problema mesmo.


Música ruim no rádio.
Restam Cinco Minutos.


Merda, vou parar quatro minutos antes,
Estou no comando.


Deixa os deuses baterem nas
venezianas
de outra pessoa.


Boa noite."








Contrato Social


"As ruas não pareciam muito bem, elas raramente pareciam. Era uma estrutura planejada por ratos e homens e você tinha que viver nela e morrer nela. Mas como um amigo meu uma vez me disse: "nunca nada lhe foi prometido, você não assinou nenhum contrato."





domingo, 27 de setembro de 2020






Um mergulho nos braços 
de uma vida insana 


"O equilíbrio é preservado pelas lesmas 
que escalam os rochedos de Santa Mônica;
A sorte está em descer a Western Avenue
enquanto as garotas numa casa de
massagem gritam para você, 
"Alô, Doçura!"
O milagre é ter 5 mulheres apaixonadas
por você aos 55 anos,
e o melhor de tudo isso é que você
só é capaz de amar uma delas.
A bênção é ter uma filha mais delicada
do que você, cuja risada é mais leve
que a sua.
A paz vem de dirigir um Fusca 67 azul 
pelas ruas como um adolescente, 
o rádio sintonizado em \"O Seu Apresentador Preferido", sentindo o sol, 
sentindo o sólido roncar do motor retificado,
enquanto você costura o tráfego.
A graça está na capacidade de gostar de rock,
música clássica, jazz...
Tudo o que contenha a energia original do
gozo.


E a probabilidade que retorna
é a tristeza profunda,
debaixo de você,
estendida sobre você,
entre as paredes de guilhotina,
furioso com o som do telefone
ou com os passos de alguém que passa;
mas a outra probabilidade -
a cadência animada que sempre se segue -
faz com que a garota do caixa no
supermercado se pareça com a Marilyn
com a Jackie antes que levassem seu amante de Harvard
com a garota do ensino médio que sempre
seguíamos até em casa.

Lá está a criatura que nos ajuda a acreditar
em alguma coisa além da morte:
alguém num carro que se aproxima
numa rua muito estreita,
e ele ou ela se afasta
para que possamos passar,
ou se trate do velho lutador Beau Jack
engraxando sapatos
após ter queimado todo seu dinheiro
em festas,
mulheres,
parasitas,
bufando, respirando junto ao couro,
dando um trato com a flanela
os olhos erguidos para dizer:
"mas que diabos, por um momento
tive tudo. isso compensa todo o
resto."


Às vezes sou amargo
mas no geral o sabor tem sido doce.
É apenas que tenho
medo de dizê-lo.
É como quando sua mulher diz,
"fala que me ama", e
você não consegue.


Se você me vir sorridente
em meu Fusca azul,
aproveitando o sinal amarelo,
dirigindo firme em direção ao sol,
estarei mergulhado nos
braços de uma
vida insana.
Pensando em trapezistas de circo,
em anões com enormes charutos,
num inverno na Rússia no início dos anos 40,
em Chopin com seu saco de terra polaca,
numa velha garçonete que me traz uma xícara
extra de café com um sorriso
nos lábios.


O melhor de você
me agrada mais do que pode imaginar.
Os outros não importam
excetuado o fato de que eles têm dedos e cabeça
e alguns deles olhos
e a maioria deles pernas
e todos eles
sonhos e pesadelos
e uma estrada a seguir.


A justiça está em toda parte e não descansa
e as metralhadoras e os coldres e
as cercas vão lhe dar prova
disso."









Revolução

"Revolução soa muito romântico, vocês sabem, mas não é. É sangue, culhão e loucura; é menininhos mortos que ficam no caminho, menininhos que não entendem porra nenhuma do que está acontecendo. É a sua puta, a sua mulher rasgada na barriga por uma baioneta e depois estuprada no cu enquanto você olha. É homens torturando homens que costumavam rir com as historinhas do Mickey Mouse. Antes de você entrar na coisa, decida onde está o espírito e onde ele estará quando a coisa tiver terminado. Eu não fecho com o Dos – CRIME E CASTIGO – que nenhum homem tem o direito de tirar a vida de um outro homem. Mas talvez mereça um pouco de reflexão antes. É claro, a porra é que eles têm tirado as nossas vidas sem disparar um tiro."

 





Bestas saltando ao longo do tempo 


"Van Gogh escrevendo ao irmão pedindo tintas
Hemingway testando sua espingarda
Céline falindo como médico
a impossibilidade de ser humano

Villon expulso de Paris por ser um ladrão
Faulkner bêbado nas sarjetas de sua cidade
a impossibilidade de ser humano

Burroughs matando a esposa com uma arma
Mailer esfaqueando a dele
a impossibilidade de ser humano

Maupassant enlouquecendo num barco a remo
Dostoiévski enfileirado num muro para ser fuzilado
Crane pulando de um barco na voragem da hélice
a impossibilidade

Sylvia com a cabeça no forno como batata assada
Harry Crosby saltando naquele Sol Negro
Lorca assassinado na estrada pelos soldados espanhóis
a impossibilidade

Artaud sentado num banco de hospício
Chatterton tomando veneno de rato
Shakespeare um plagiador
Beethoven com a corneta de surdez enfiada na cabeça
a impossibilidade a impossibilidade

Nietzsche totalmente enlouquecido
a impossibilidade de ser humano
demasiado humano

Esse respirar
pra dentro e pra fora
pra fora e pra dentro
esses marginais
esses covardes
esses campeões
esses loucos cães da glória
movendo um tantinho de luz rumo a
nós
impossivelmente".









... E o pulso ainda pulsa


"Em 1989, superei uma tuberculose. Este ano operei um olho que ainda não está bom. E dor na perna, calcanhar e pé direitos. Coisas pequenas. Pedaços de câncer de pele. A morte mordendo meus calcanhares, deixando que eu saiba. Sou um saco velho, é isso. Bem, não poderia beber até morrer. Cheguei perto, mas não aconteceu. Hoje, mereço viver com o que restou."











Encurralado


"Bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho, o talento perdido.
Tateando às cegas em busca
da palavra.

Ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…
ainda não, velho cão…
logo em breve.

Agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, aconteceu,
ele já era…
é triste…”

“Ele nunca foi grande coisa, não é
mesmo?”
“bem, não, mas agora…”

Agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.

Agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona.

Enquanto as sombras assumem
formas,
combato retirando-me
lentamente

Agora
minha antiga promessa
definha
definha

Agora
acendendo novos cigarros,
servindo mais bebidas
Tem sido um belo.
combate.
Ainda
é."




terça-feira, 22 de setembro de 2020






Um Homem Desconstruído


"Com ele não era a morte que o preocupava. Com ele eram as partes soltas e não resolvidas que ficaram para trás - uma filha de quatro anos de idade em alguma comunidade hippy no Arizona; meias e cuecas pelo chão, pratos na pia; um carro não pago, contas de gás, contas de luz, contas de telefone; pedaços dele deixados em bucetas mal-lavadas de meia centena de putas, pedaços dele deixados em mastros de bandeira e saídas de incêndio, terrenos baldios, aulas da Comunidade da Igreja Católica, celas de prisão, barcos; pedaços dele deixados em bandeides lá embaixo nos esgotos; pedaços dele deixados em despertadores jogados fora, sapatos jogados fora, mulheres jogadas fora, amigos jogados fora..."




segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 





Um Computador Agora...


"Eu era o escritor bêbado endividado
que costumava escrever à mão seu
trabalho em letra de forma.
A maior parte era contos
enviados para The Atlantic Monthly,
Harper's e The New Yorker.
Ah sim, e para
a revista Story.

Tenho certeza de que me achavam
louco e talvez eu fosse,
mas mandava de 3 a 5 contos por semana.
O editor da Atlantic me respondeu uma vez
e o editor da Story algumas vezes com 
pequenas notas de encorajamento
assim eu sabia que o trabalho era lido.

Agora tenho um computador
e ele também tem suas 
pequenas histórias de panes 
e trabalhos perdidos.
Além disso, vez ou outra tenho que levar
o computador de volta para o conserto.
"Estou aqui de novo",
digo a eles. 

Desde que um dos meus gatos
mijou no buraco 
onde se inserem os disquetes
as coisas não funcionaram mais direito.

Deixei o computador no conserto 
e voltei para a máquina de escrever elétrica,
mas é como tentar quebrar uma rocha
com uma marreta, 
mas fui em frente e martelei
e finalmente consegui algumas linhas.

Tentei a máquina de escrever manual
uma vez e não consegui trabalhar nela.

Voltei para o computador agora
escrevendo isso, 
mas não consigo parar de pensar
nos dias em que escrevia 
tudo em letra de forma.
Tanto fiz que escrevia em letra de forma
mais rápido que em letra cursiva.
Beber e escrever em letra de forma.
Escrever em letra de forma e beber
e colocar as coisas em envelopes.

Eu era louco, sim,
eu era louco,
mas gloriosamente louco,
jovem, bebendo o vinho barato,
fumando cigarros enrolados
cuja cinza quente e vermelha
frequentemente caía em minha camisa
me queimando e me tirando do meu transe.

Não posso voltar para isso,
tenho meu Macintosh,
mas estou feliz por ter estado lá
daquele jeito.
Suficientemente sortudo e
suficientemente louco
para arremessar isso pelos ares. 

Ás vezes os deuses 
nos dão algo a mais
e não percebemos na hora.

Olho para trás agora,
olho para trás para aquele garoto
e estou feliz por ter sido eu,
os deuses lá em cima
rindo e me incitando,
se divertindo diabolicamente 
com tudo isso,
fazendo a caneta correr pelo papel,
sem carro, sem mulher, 
sem emprego, sem comida,
só vinho e tinta e papel, 
a porta fechada,
minha mente correndo pela 
borda do teto,
pela borda do céu noturno,
simplesmente não sabia algo melhor
e fiz isso."


domingo, 20 de setembro de 2020





 
Pensamentos sobre ter 71


"Tendo vestido a vida como uma flor vermelha,
cheguei até aqui,
sentado de cueca e chinelinhos,
ouvindo Ravel.
Hora de um bom charuto.
Reparo na aliança de casamento
em um dos meus dedos enquanto o acendo.
Além disso,
está melhor agora,
a morte está mais perto,
não tenho mais que procurá-la,
não tenho mais que desafiá-la,
zombar dela, brincar com ela.
Está bem aqui comigo
como um gato de estimação
ou um calendário de parede.

Tive uma boa jornada.
Posso confessar isso sem arrependimentos.

Estranho, apesar disso, não me sinto diferente
de quando tinha 35 ou 47 ou 62:
só estou realmente consciente de minha
idade quando olho no espelho:
ridículo,
olhos perniciosos,
boca estúpida arreganhada.

É bom, meu amigo,
a luz dos flashes sobre mim,
cheguei na praia dourada.
Tudo aqui é milagre,
um milagre difícil,
como era o que o precedeu,
mas não há nada pior
que um velho falando sobre o que ele fez.

Bem, sim, há:
um bando de velhos falando sobre isso.

Fico longe deles
E você fica longe de mim.

Esse espaço é tudo
o que realmente precisamos.
Qualquer um de nós. "













Magnetismo Pessoal

"Eu era como um lixo que atraía moscas, ao invés de uma flor desejada por borboletas e abelhas."





sábado, 19 de setembro de 2020

 



Fama

"Alguns querem, eu não,
eu quero fazer o que quer que seja que eu faço
e só,
Não quero olhar no olho adulador,
apertar a mão suada.
Acho que o que eu faço
é da minha conta.
Faço porque se não fizesse
estaria acabado.
Sou egoísta:
faço por mim mesmo,
para salvar o que restou de mim.
E quando sou abordado
como herói ou semi-deus ou guru
me nego a aceitar isso.
Não quero seus parabéns,
sua adoração,
sua companhia.

Devo ter meio milhão de leitores,
um milhão,
dois milhões.
Não me importo.
Escrevo como tenho que escrever

E no início, 
quando não havia leitores,
eu escrevia como eu precisava escrever,
e se todo
o meio milhão,
o um milhão,
os dois milhões,
desaparecerem
continuarei a escrever como sempre escrevi.

O leitor é um a posteriori,
a placenta,
um acidente, 
e qualquer escritor que 
pense diferente
é mais idiota 
que seus seguidores."







 Pré Lançamento 


"Cheguei para a segunda seção.
Parte da turma da primeira seção
ainda estava no saguão
amontoada em grupos,
diretores, assistentes, diretores, roteiristas,
atores, produtores, críticos,
amigos de alguém, cinegrafistas,
e assim vai.

Um deles me disse,
" é bom, realmente, bom,
você vai rir até estourar!"
Entrei com minha mulher e sentamos.
Ela teve sorte,
foi capaz de rir poucas vezes.

Eu achei a coisa toda 
inteiramente plagiada.
Havia um toque de Woody Allen
e um pouco de irmãos Marx, 
até um pouco de Chaplin,
um toque disso e daquilo,
um bocado de dança, gritos, 
algumas boas esquisitices antigas.
Um pouco de história nacional 
e memórias da Itália
misturadas com uma escrita
ruim e óbvia.
Um dos atores ganhou um prêmio
em algum lugar por sua performance
que foi ordinária.

E eu podia perceber 
todo o texto das piadas vindo
antes que aterrissassem.
Mas a audiência estava batendo palmas e
rindo e tendo bons momentos.

Nossa, pensei, vendo aquilo, 
ou eu estou com a razão 
ou sou louco e há algo
errado comigo.
Talvez me falte a habilidade de permitir
que algo bom e simples
entre em minha consciência.
Bem, o que quer que houvesse comigo,
o eu que eu sou pensa 
que aquilo é uma merda.

A senhora sentada atrás de nós
estava destruindo sua cadeira
enquanto urrava de rir.
Então acabou.

Tínhamos os assentos na ponta 
da penúltima fileira
e conseguimos sair rapidamente.
Fomos os primeiros da fila no estacionamento
exceto por um cara que estava
de fato correndo para o carro.
Ele pulou dentro e saiu roncando o motor.
Nós não estávamos muito distantes.
Foi uma volta agradável para casa.

A noite estava escura e limpa,
tinha 
recém acabado de chover.
E Hollywood ainda tinha
um chão fudido pela frente
antes de conseguir sequer chegar lá."


sexta-feira, 18 de setembro de 2020








 

Trabalho

"Acho que trabalhei demais na minha vida como trabalhador comum. Trabalhei como tal até os 50 anos. Aqueles desgraçados me acostumaram a ir a um lugar todos os dias e ficar nesse lugar por muitas horas e depois voltar. Me sinto culpado de só ficar rolando por aí. Assim me encontro no hipódromo, de saco cheio e, ao mesmo tempo, enlouquecendo."






 





Motivação


"Quem escreve de pé, às seis da manhã, não tem senso de humor. Quer derrotar alguma coisa."




quinta-feira, 17 de setembro de 2020





 

Um Certo Orgulho Nisso 


"Eu não me interesso em ter meus escritos
elogiados com frequência:
é perigoso para a escrita e para mim

Escrever é aquilo que uma pessoa faz,
é como uma aranha tecendo sua teia.
Você faz o que tem
que fazer.

Ainda, quanto aos elogios, 
ás vezes eu afrouxo,
tipo quando eles me escrevem
das prisões dizendo que
gostam das minhas coisas.
Ou gosto ainda mais
quando me escrevem
dos hospícios dizendo que
gostam das minhas coisas.

Mas a que eu gostei mais, no entanto,
foi quando uma
senhora de um puteiro do estado de Nevada
me escreveu
dizendo que ela e as meninas
gostavam das minhas coisas.
E a qualquer hora
que eu estivesse nas vizinhanças
eu poderia ter todas as que eu quisesse
de graça.

Isso bate
qualquer notícia que eu possa ler
no New York Times.

Mãos
à obra."






quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 






Tecnologia


 "Imagino qual será o próximo passo depois do computador. Provavelmente, você só apertará os dedos nas têmporas e saíra esse monte de palavras perfeitas. É claro, você terá que encher o tanque antes de começar, mas tem sempre os sortudos que conseguem fazer isso. Espero." 





terça-feira, 15 de setembro de 2020

 



O Nilo corre para o Norte



"Entrei no banheiro dos homens
no hipódromo
e contei:
havia doze homens
urinando no mictório do sul.
Ninguém estava usando o do norte.

Onde quer que as massas forem,
vá para o outro lado.
Usei o mictório do norte.
Então saí dali
e naquele dia eu ganhei
praticamento todas as apostas.

Eu sabia como avaliar
cavalos e
homens

Observação posta em ação
é a essência
da arte."





segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 


Geração Saúde

 "Quem inventou a escada rolante? Degraus que se movem. E depois falam de loucura. Pessoas subindo e descendo em escadas rolantes. Elevadores, dirigindo carros, tendo portas de garagens que se abrem ao tocar de um botão. Depois elas vão para as academias queimar a gordura. Daqui a 4000 anos, não teremos pernas, nos arrastaremos sobre nossas bundas." 





domingo, 13 de setembro de 2020






Problemas na Fila do Caixa 


"Muitas vezes na fila 
do caixa do supermercado
ele me pergunta
"Como vai?"
E eu respondo algo como,
"Não muito bem, tenho hemorróidas, insônia,
vertigem e a pilha do meu relógio
acabou".
Nunca há uma resposta,
é como se eles não tivessem escutado,
ficam apenas somando minhas compras.

Não estou tentando descarregar minhas
frustrações nos empregados do supermercado,
mas quando me perguntam
"Como vai?"
eu geralmente não estou indo muito bem
e não há nada que me faça sentir pior
do que dizer "bem".

Tentei algo diferente.
Quando perguntam
"Como vai?" eu digo, 
"Nunca estive tão bem!
É inacreditável!
O dinheiro está vindo a rodo!
Não consigo entender isso!"

Mas eles desgostam dessa resposta
mais do que daquelas
das hemorróidas, insônia e vertigem.

Então tentei de um terceiro modo.
quando fazem aquela mesma pergunta
eu digo,
"Você não se importa mesmo".

De novo não há nenhuma reação,
ele apenas continuam 
somando minhas compras
e eu compreendo essa falta de resposta;
eles não se importam mesmo,
e eu acho isso bom.

Nós todos temos que perceber que isso
não é nada de que se deva envergonhar
e isso faz com que comprar
mantimentos
seja o mesmo que
qualquer outra coisa;
o que precisamos é o que queremos e
o que queremos
tem muito pouco a ver
com qualquer outra coisa."









sábado, 12 de setembro de 2020




Um Tipo de Estudante 



"Tentei ficar longe do hipódromo, mas daí fico muito nervoso e deprimido e, de noite, não sobra gás para o computador. Acho que tirar a minha bunda daqui me força a olhar para a Humanidade, e quando você olha para a Humanidade você TEM que reagir. É um excesso, um contínuo espetáculo de horrores. E fico de saco cheio lá, aterrorizado aqui fora, mas também sou, até agora, um tipo de estudante... Um estudante do inferno."




sexta-feira, 11 de setembro de 2020





 Textos Autobiográficos


"Chinaski parodia a si mesmo,
 romantiza a si mesmo.
Ele está em um pequeno quarto de novo,
sempre em um pequeno quarto, fechando a porta,
trancando o mundo
do lado de fora.
Em seus 70 anos ele ainda estará tentando superar
sua infância brutal
e ele nunca teve uma compreensão real
das mulheres.
Seus escritos são irregulares
ainda que potentes
e mesmo nos seus melhores há uma sensação
de redundância,
de nada novo.
Ele foi imitado por hordas
de escritores
que acham seu estilo simples
atraente.
Agora ele tem uma casa, uma
piscina, um spa, um carrão
e uma mulher que lhe dá
vitaminas.
Ele é um recluso
e se você se aproxima dele no
hipódromo
há a chance de que você seja
ignorado ou insultado.
Seus únicos visitantes parecem ser
estrelas de cinema,
diretores de filme e
entrevistadores.
Após sua morte
talvez um pequeno lugar
lhe será dedicado
na literatura mundial
onde irá mofar sob a
sombra de Céline, Hemingway, Jeffers
e Henry Miller.
Que deus descanse sua alcoólatra
alma agnóstica
e vamos agora para
coisas mais
interessantes."






quarta-feira, 9 de setembro de 2020

 






Anonimato


"Latas de lixo. Uma noite dormi, bêbado, em cima de latas de lixo, New York City. Fui acordado por um enorme rato sentado na minha barriga. Nós dois, de uma só vez, pulamos quase um metro pra cima. Eu estava tentando ser um escritor. Hoje, eu deveria ser um e não consegui sequer pensar num título para um livro. Eu era uma fraude. O trânsito começou a se movimentar e fui atrás. Ninguém sabia o que os outros eram e isso era ótimo. Então um grande raio caiu sobre a estrada e, pela primeira vez naquele dia, me senti muito bem."




segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 




Onde Enfiar

"Não me culpe se seu carro quebra da rodovia.
não me culpe se sua mulher vai embora.
não me culpe se você foi para a guerra e descobriu que pessoas matam.

não me culpe por você ter assassinado 4 anos votando no cara errado.
não me culpe por a transa às vezes falhar.

não me culpe se eu não atendo o telefone e não consigo assistir TV.

não me culpe pelo seu pai.
não me culpe pela igreja da esquina.
não me culpe pela bomba de hidrogênio.

me culpe se você estiver lendo isso.
não me culpe se você não entender.

não me culpe pelo mundo fervilhando de assassinos.
não me culpe se você é um deles.
culpe seu pai.
culpe a igreja da esquina.

não me culpe pelo Natal ou o feriado da independência.
culpe qualquer fudido que você quiser mas não me culpe.

não me culpe pelos sem teto.
não me culpe por 162 jogos de beisebol todo ano.
não me culpe pelo basquete.

não me culpe por não querer entrar em elevadores cheios de gente.
não me culpe por não ter um herói.
não me culpe por não criar um.

não me culpe por ficar aturdido com a risada das massas.
não me culpe por rir sozinho.

não me culpe pelo enjaulamento do tigre.
me culpe porque minha morte não será temível,

mas não culpe a si mesmo."


domingo, 6 de setembro de 2020





  


Reconhecimento


"Hospitais e prisões e prostíbulos: eis as universidades da vida. Eu já recebera vários títulos dessas instituições. Exigia ser tratado por senhor."




sábado, 5 de setembro de 2020






Vidas no Lixo


" O vento sopra forte esta noite
e é um vento frio
e eu fico pensando nos
garotos na rua.
espero que alguns tenham uma garrafa
de tinto.

É quando você está na rua
que percebe que
tudo tem dono
e que há fechaduras em tudo.

É assim que uma democracia funciona:
você obtém o que puder,
tenta manter o que obteve
e acrescenta algo
se possível.

É assim que uma ditadura
funciona também
só que ela ou escraviza ou
destrói seus
desamparados.

Nós simplesmente esquecemos
os nossos.
Nos dois casos
é um vento
forte
e frio."

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

 



Resposta para certa espécie de crítica


"Uma dama talvez se encontre com um homem
por causa do jeito como ele escreve
e logo a dama já poderia estar sugerindo
outro jeito de escrever.
Mas se o homem amar a dama
ele vai continuar escrevendo do jeito que escreve.

E se o homem amar o poema,
ele vai continuar escrevendo do jeito que deve.
E se o homem amar a dama e o poema,
ele sabe o que é o amor
duas vezes mais do que qualquer outro homem.
Eu sei o que é o amor.

Este poema é para dizer isso à dama."

quinta-feira, 3 de setembro de 2020





Simplicidade 


"Eu não sabia o que estava fazendo até o dia em que fiz. Passei a me fixar na direção para a qual eu deveria ir. Voltei-me para o meu deus pessoal: SIMPLICIDADE. Quanto mais compacto e menor você se tornar, menor é a chance de errar ou de mentir. Os gênios são aqueles capazes de dizer algo profundo de maneira simples."



quarta-feira, 2 de setembro de 2020







Para a Puta Que Levou Meus Poemas 


"Alguns dizem que deveríamos
evitar remorsos particulares no poema,

manter a abstração, e há certa razão nisso,
mas Jesus: lá se foram 12 poemas e
eu nunca uso papel-carbono 
e você está com minhas pinturas também,
minhas melhores; é sufocante:
você está tentando me destruir,
como fez com todos os outros?
por que não leva meu dinheiro? 
É o que normalmente fazem com os bêbados
desacordados na esquina 
de quem batem os bolsos das calças.

Da próxima vez leve meu braço esquerdo
ou uma nota de cinquenta
mas não meus poemas:
não sou Shakespeare.
Mas um dia simplesmente
não haverá mais nenhum, abstrato ou seja o que for;
sempre haverá dinheiro e putas e bêbados
até a última bomba cair,
mas como Deus disse,
cruzando as pernas:
percebo que fiz poetas de sobra
mas não muita
poesia."








terça-feira, 1 de setembro de 2020









O dia em que joguei pela
 janela uma grana preta




"É, eu disse, você pode pegar
seus ricos tios e tias
e avós e pais
e todo aquele petróleo escroto deles
e seus sete lagos
e seus selvagens perus
e búfalos
e o estado inteiro do Texas,
quer dizer, seus fuzilamentos de corvos
e seus calçadões de sábado à noite,
e sua biblioteca de meia-tigela
e seus vereadores corruptos
e seus artistas veadinhos –
você pode pegar tudo isso
e o seu jornal semanal
e os seus famosos tornados
e as suas enchentes imundas
e todos os seus gatos uivantes
e a sua assinatura da Time,
e enfiar lá, bebê,
enfiar lá.

Posso empunhar de novo
a picareta e o machado (acho)
e posso descolar 25 pratas
por uma luta de 4 assaltos (talvez);
claro, estou com 38
mas um pouco de tintura
pode tirar o grisalho do meu cabelo;
e ainda consigo escrever poemas (às vezes),
não se esqueça disso,
e mesmo que não rendam nada,
é melhor do que esperar por mortes e petróleo,
e atirar em perus selvagens,
e esperar que o mundo
comece.

Tá bom, vagabundo, ela disse, cai fora!
O quê?, eu disse
Cai fora! Você teve o seu último acesso de fúria.
Cansei dos seus malditos acessos de fúria:
você está sempre agindo como um
personagem de uma peça de O’Neill.
Mas eu sou diferente, bebê,
não consigo evitar.
Você é diferente, tá bom!
Meu Deus, quanta diferença!
Não bata a porta quando sair.
Mas, bebê, eu amo o seu dinheiro!

Você nunca me disse que me ama!
O que você quer um mentiroso
ou um amante?
Você não é nenhum dos dois!
Fora, vagabundo, fora!
...mas bebê!
volte pro O’Neill!

Fui até a porta,
fechei-a sem barulho e fui embora,
pensando: tudo que elas querem
é um índio de madeira
que diga sim e não
e fique parado acima do fogo e
não infernize demais;
mas você já está ficando
velho, garoto;
da próxima vez não abra
tanto
o jogo."