terça-feira, 1 de setembro de 2020









O dia em que joguei pela
 janela uma grana preta




"É, eu disse, você pode pegar
seus ricos tios e tias
e avós e pais
e todo aquele petróleo escroto deles
e seus sete lagos
e seus selvagens perus
e búfalos
e o estado inteiro do Texas,
quer dizer, seus fuzilamentos de corvos
e seus calçadões de sábado à noite,
e sua biblioteca de meia-tigela
e seus vereadores corruptos
e seus artistas veadinhos –
você pode pegar tudo isso
e o seu jornal semanal
e os seus famosos tornados
e as suas enchentes imundas
e todos os seus gatos uivantes
e a sua assinatura da Time,
e enfiar lá, bebê,
enfiar lá.

Posso empunhar de novo
a picareta e o machado (acho)
e posso descolar 25 pratas
por uma luta de 4 assaltos (talvez);
claro, estou com 38
mas um pouco de tintura
pode tirar o grisalho do meu cabelo;
e ainda consigo escrever poemas (às vezes),
não se esqueça disso,
e mesmo que não rendam nada,
é melhor do que esperar por mortes e petróleo,
e atirar em perus selvagens,
e esperar que o mundo
comece.

Tá bom, vagabundo, ela disse, cai fora!
O quê?, eu disse
Cai fora! Você teve o seu último acesso de fúria.
Cansei dos seus malditos acessos de fúria:
você está sempre agindo como um
personagem de uma peça de O’Neill.
Mas eu sou diferente, bebê,
não consigo evitar.
Você é diferente, tá bom!
Meu Deus, quanta diferença!
Não bata a porta quando sair.
Mas, bebê, eu amo o seu dinheiro!

Você nunca me disse que me ama!
O que você quer um mentiroso
ou um amante?
Você não é nenhum dos dois!
Fora, vagabundo, fora!
...mas bebê!
volte pro O’Neill!

Fui até a porta,
fechei-a sem barulho e fui embora,
pensando: tudo que elas querem
é um índio de madeira
que diga sim e não
e fique parado acima do fogo e
não infernize demais;
mas você já está ficando
velho, garoto;
da próxima vez não abra
tanto
o jogo."


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