"A mesma vigarice de sempre. Trinta anos e tudo continuava igual, As coisas não mudam. A evolução do homem sempre foi muito lenta. Eram que nem os idiotas que tive que enfrentar quando entrei pela primeira vez na redação do jornal da Faculdade Municipal de Los Angeles em 1939 ou 1940 - todos aqueles bobalhões cheios de nove horas, com viseira de jornalista na cabeça, a redigir os artigos mais sem graça e burros que se possa imaginar. Se dando tais ares de importância que não tinham nem mesmo a decência de demonstrar que estavam vendo a gente ali, nas barbas deles. Pessoal que trabalha em jornal sempre foi a escória do ramo; qualquer faxineiro que recolhe modess usados numa latrina tem mais dignidade - evidentemente."
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
Extrema Unção
"A ambulância chegou ao destino e quando vi, estava deitado numa mesa, ouvindo perguntas: qual era a minha religião? Onde tinha nascido? Havia ficado devendo alguma conta anterior ali no hospital ? Qual a data do meu nascimento? Pais ainda vivos? Casado? Tudo o que se possa imaginar. Falam com um sujeito como se estivesse na maior lucidez; nem se dão ao trabalho de fingir que a gente não vai morrer. E não tem a mínima pressa. Com isso o cara se acalma, mas não por causa deles: são movidos pelo tédio e pouco estão ligando se a gente morre, sai voando ou dá um peido.
Não, peidar já é considerado um exagero.
- Mr. Bukowski .- anunciou - não podemos lhe dar mais sangue. O senhor não dispõe de crédito para transfusão. Sorria. Estava me comunicando que iam deixar que eu morresse.
- Tudo bem - retruquei.
- Quer falar com o padre?
- Pra quê?
- Na sua ficha de entrada o senhor botou que é católico.
- Botei por botar.
- Por quê?
- Porque já fui. Se a gente põe que não tem religião, as pessoas fazem uma porção de perguntas.
- Pra nós o senhor é católico, Mr. Bukowski.
- Escute aqui, pra mim tá difícil falar. Tô morrendo. Tá legal, tá legal, sou católico, faça o que bem entender.
Uma hora acordei e dei com o padre parado a meu lado.
- Padre - pedi, - por favor, vá embora. Posso morrer sem isso.
- Quer que me retire filho?
- Quero sim, padre.
- Perdeu a fé.
- Perdi, sim.
- Meu filho, quem é católico, nunca deixa de ser.
- Pura onda padre.
Na cama ao lado, um velho chamou:
- Padre, padre, quero falar com o senhor. Fale comigo padre. O sacerdote foi pra lá. Fiquei esperando a morte. Você está careca de saber que acabei não morrendo, senão não estaria aqui escrevendo tudo isso..."
Não, peidar já é considerado um exagero.
- Mr. Bukowski .- anunciou - não podemos lhe dar mais sangue. O senhor não dispõe de crédito para transfusão. Sorria. Estava me comunicando que iam deixar que eu morresse.
- Tudo bem - retruquei.
- Quer falar com o padre?
- Pra quê?
- Na sua ficha de entrada o senhor botou que é católico.
- Botei por botar.
- Por quê?
- Porque já fui. Se a gente põe que não tem religião, as pessoas fazem uma porção de perguntas.
- Pra nós o senhor é católico, Mr. Bukowski.
- Escute aqui, pra mim tá difícil falar. Tô morrendo. Tá legal, tá legal, sou católico, faça o que bem entender.
Uma hora acordei e dei com o padre parado a meu lado.
- Padre - pedi, - por favor, vá embora. Posso morrer sem isso.
- Quer que me retire filho?
- Quero sim, padre.
- Perdeu a fé.
- Perdi, sim.
- Meu filho, quem é católico, nunca deixa de ser.
- Pura onda padre.
Na cama ao lado, um velho chamou:
- Padre, padre, quero falar com o senhor. Fale comigo padre. O sacerdote foi pra lá. Fiquei esperando a morte. Você está careca de saber que acabei não morrendo, senão não estaria aqui escrevendo tudo isso..."
domingo, 15 de novembro de 2009
sábado, 14 de novembro de 2009
" A dor é estranha. Um gato matando um passarinho, um acidente de carro, um incêndio... Um dia, de repente. A dor chega, BANG, e aí está ela, instalada em você. É real. Aos olhos dos outros, parece que você está, de bobeira. Não há cura pra dor, a menos que você conheça alguém capaz de entender seus sentimentos e saiba como ajudar."
quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Editores e os Princípios da Liberdade de Imprensa
"Olha, Mr. Chinaski isto aqui é uma empresa. Se fossemos publicar cada escritor que exige ser publicado porque acha que o que escreve é sensacional, em pouco tempo abriríamos falência. Nós temos que ter um critério. Se cometermos muitos enganos estaremos liquidados. Como vê, é bem simples. Nós editamos boas obras que vendem e editamos obras ruins, que não prestam, mas vendem. Estamos interessados em vender. Isso aqui não é nenhuma instituição de caridade e, francamente, não estamos muito preocupados com o aperfeiçoamento da alma ou com o processo do mundo."
quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ah! Liga vai...
"Liguei a televisão. Tinha uma no quarto. Apareceu uma moça me dizendo que ia falar comigo e eu ia me sentir bem. Eu só precisava de um cartão de crédito. Decidi que não. Me sentia inteiramente imprestável. Não valia nada. Milhões de mulheres dando sopa là fora, e nenhuma sobrando pra mim. Por quê? Era um perdedor."
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
''Os bêbados das três horas da manhã, em todos os Estados Unidos, fitavam as paredes, depois de terem finalmente desistido. Não era preciso ser bêbado para se machucar, para cair sob a mira de uma mulher; mas a gente podia se machucar e se tornar um bêbado. Você podia pensar por algum tempo, sobre tudo quando era jovem, que estava com sorte, e às vezes estava mesmo. Mas havia todo tipo de medidas e leis em ação das quais você nada sabia, mesmo quando imaginava que estava indo tubo bem. Uma noite, uma quente noite veranil de quinta-feira, você se tornava o bêbado, você estava lá fora sozinho num quarto de aluguel barato, e por mais que tivesse visto isso antes, não adiantava, era até pior, porque você tinha pensado que não teria de enfrentar aquilo de novo. A única coisa que podia fazer era acender um cigarro, servir outra bebida, examinar as paredes descascadaas em busca de olhos e lábios. O que homens e mulheres se faziam uns aos outros estava além da compreensão."
terça-feira, 3 de novembro de 2009
"Os motoristas de Nova Iorque eram exatamente como Nova Iorque: ninguém dava uma deixa. Cagavam pros outros. Ninguém era capaz de compaixão ou cortesia: pára-choque contra pára-choque, eles iam em frente. Era compreensível: se alguém fizesse uma gentileza causaria um engarrafamento, uma bagunça, um assassinato. O trânsito fluia incessante, como cagalhões no esgoto. Era maravilhoso apreciar aquilo. Não se via um motorista zangado; eles simplesmente se conformavam com os fatos."
domingo, 1 de novembro de 2009
"Contei 176 degraus, e estava no primeiro andar. Parei no quiosque de cigarros, comprei um charuto e o Programa do Turfe. Ouvi o elevador chegando. Do lado de fora, atravessei decidido a poluição. Tinha os olhos azuis, os sapatos velhos e ninguém me amava, com exceção de mim mesmo. Mas tinha coisas a fazer. Eu era Charles Bukowski, escritor e bêbado. Fui andando e solfejando minha ária favorita de 'Carmen'."
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