quinta-feira, 9 de janeiro de 2020




Dirigindo no Inferno

"As pessoas estão exaustas, infelizes e frustradas, as pessoas estão amargas e vingativas, as pessoas estão iludidas e temerosas, as pessoas estão enraivecidas e pouco imaginativas, e eu dirijo entre elas na autoestrada e elas projetam o que resta de si mesmas no modo como dirigem – Algumas mais odientas, mais frustradas do que as outras – algumas não gostam de ser ultrapassadas, algumas tentam impedir que outras as ultrapassem – algumas tentam bloquear trocas de faixa – algumas odeiam carros de um modelo mais novo e mais caro – outras nestes carros odeiam os carros mais velhos.
A autoestrada é um circo de emoções baratas e mesquinhas, é a humanidade em movimento, seus motoristas vindo na maioria de algum lugar que detestam e indo para outro que detestam na mesma medida ou mais. As autoestradas são uma lição sobre aquilo em que nos transformamos e os acidentes e as mortes são na maioria uma colisão de seres incompletos, de vidas lamentáveis e dementes. Quando dirijo pelas autoestradas eu vejo a alma da humanidade da minha cidade e ela é feia, feia, feia: os vivos sufocaram o coração de vez."



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