segunda-feira, 27 de abril de 2020




Servimos bem para servir sempre


“Puta merda, será que você não entende? – disse pro editor- não gosto de drogarias! Não gosto de ficar esperando nessas sorveterias que tem nelas. A gente fica ali sentado olhando pro mármore daquele balcão circular esperando pra ser atendido, ou passa uma formiga, ou então um inseto qualquer morrendo ali, na frente da gente, com uma asa ainda mexendo e a outra parada. Ninguém te conhece. Duas ou três pessoas de cara obtusa e paciente ficam olhando pra cara da gente. Ai surge, enfim, a garçonete. Não seria capaz de deixar a gente cheirar o fedor da calcinha dela, e no entanto é medonha de feia e nem sabe. Anota, com a maior má vontade o pedido que se faz. Uma coca. A bebida vem num copo de papel morno e dobrado. Da pra perder o ânimo, mas a gente bebe. O inseto continua vivo. O ônibus não tem jeito de chegar. O mármore da sorveteria está coberto de pó pegajoso. É tudo uma farsa, será que não entende? Se você vai na cigarraria e tenta comprar um maço, passam cinco minutos antes de alguém aparecer. A gente se sente violentado nove vezes antes de sair de lá.”



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