sábado, 2 de maio de 2020






Ronda  

"Me estiquei até a última prateleira do armário
e puxei de lá uma calcinha azul
e mostrei a ela e
perguntei "são suas?"
e ela olhou e disse,
"não, devem ser daquela cadela".

Depois disso ela se foi e não a vi
desde então, não está na sua casa.
Continuo passando por lá, 

enfiando bilhetes debaixo da porta.
Volto ali e os bilhetes continuam intocados. 

Arranco a cruz de Malta
do retrovisor do meu carro e a amarro
com um cadarço à sua maçaneta,
deixo um livro de poemas.
ao retornar na noite seguinte tudo
continua ali.

Continuo rondando as ruas em busca
daquele encouraçado cor-de-vinho que ela dirige
com uma bateria fraca, e as portas
pendendo das dobradiças estropiadas.

Circulo pelas ruas
a um passo de chorar,
envergonhado de meu sentimentalismo e
possível amor.

Um homem velho e confuso
dirigindo na chuva perguntando-se
onde a boa sorte foi parar."

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