sexta-feira, 7 de agosto de 2020






A Noite Será Devagar


"Bem, aqui estou eu de novo

ouvindo as boas e velhas músicas
de novo,
sentindo tristeza, a boa tristeza
à moda antiga em que as lágrimas
não chegam a sair.
Bom.
Ouço mais um pouco.


A mente pode consumir quantidades
mágicas de memória
enquanto a noite se
desdobra noite adentro,
enquanto outro charuto é acesso,
como se pode ficar
terrivelmente amuado 

quando velhas
músicas seguem-se
uma às outras,
rostos são lembrados,
rostos jovens,
como fatias novas de uma maçã,
estão mortos agora,
quase todos eles
estão mortos agora.

A aparente beleza e
a aparente bravura, se foram.

Sentado aqui
permitindo que meus
melhores sentidos sejam diluídos
pela melancolia,
um homem velho,
lembrando de novo,
olhando de cima a baixo
o bar imaginário
cheio de assentos vazios,
pensando naquela criança
com os loucos olhos vermelhos

que sentava lá enchendo o copo e
enchendo e enchendo e
enchendo de novo
ao ponto da imbecilidade,
agora lembrando,
ouvindo de novo,
permitindo a idiotice
entrar de novo,
somos todos
idiotas para sempre,
idiotizados para sempre.
Alegremente.
Agora."

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