quarta-feira, 5 de agosto de 2020




Sinais de Trânsito

"Os velhos camaradas jogam
no parque olhando o mar ao longe,
pondo marcadores ao longo da pista
com gravetos de madeira.
Quatro jogam, dois para cada lado
e 18 ou 20 se sentam ao
sol e assistem.
Percebo isso enquanto sigo
em direção ao banheiro público
enquanto meu carro está no conserto.

O parque abriga um velho canhão
enferrujado e inútil.
Seis ou sete veleiros cortam
o mar lá embaixo.

Termino a tarefa,
saio
e eles continuam jogando.

Uma das mulheres usa uma maquiagem carregada,
brincos falsos e fuma
um cigarro.
Os homens são muito magros,
muito pálidos,
usam relógios de pulso que lhes machucam
os pulsos.

A outra mulher é muito gorda
e dá uns risinhos
a cada vez que um ponto é marcado.

Alguns deles têm a minha idade.

Eles me enojam,
o modo como esperam pela morte
com tanta paixão
quanto um sinal de trânsito.

Essas são as pessoas que acreditam em comerciais, 

essas são as pessoas que compram dentaduras a prazo,
essas são as pessoas que comemoram feriados,
essas são as pessoas que têm netos,
essas são as pessoas que votam,
essas são as pessoas que têm funerais.

Esses são os mortos,
neblina e fumaça,
o fedor no ar,
os leprosos.

Esses são afinal quase todos
que existem.

Gaivotas são melhores,
algas marinhas são melhores,
areia suja é melhor.

Se pudesse posicionar aquele velho canhão
contra eles
e fazê-lo funcionar
eu o faria.

eles me enojam."


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