domingo, 25 de outubro de 2020






Paraíso Bastardo 




"Hoje dias ruins e noites ruins
acontecem 
demais,
O velho sonho de ter alguns anos
Tranquilos antes de morrer-
Aquele sonho desapareceu assim
como os outros sonhos.
Desde o início, ao longo dos
anos e próximo ao fim:
Uma pena, uma pena, uma pena.

Houve momentos,
faíscas de esperança,
mas eles dissolveram rápido
voltando à velha e mesma fórmula:
o fedor da realidade.

Mesmo quando havia sorte
e vida dançando na carne,
sabíamos que a permanência
seria curta.

Uma pena, uma pena, uma pena.

Queríamos mais do que
algum dia pudesse haver:
mulheres com amor e
com risadas,
noites selvagens o bastante
para um 
tigre,
queríamos dias que passeassem pela
vida com alguma graça,
um pouquinho de sentido,
uma utilidade razoável,
e não algo apenas para desperdiçar,
mas algo para lembrar,
algo para dar um soco 
nas entranhas da morte.

Uma pena, uma pena, uma pena.


Somando todas as coisas,
é claro, nossa pequena agonia é
estúpida e fútil.
Mas sinto que os nossos
sonhos não são.

E nós não estamos sós.
Os fatores implacáveis não
são uma vingança
pessoal contra um
único indivíduo.

Outros sentem a mesma
queimadura do desconcerto, 
enlouquecem, suicidam-se, 
ficam estúpidos, 
correm feridos para deuses imaginários, 
ou embriagam-se, drogam-se, 
emburrecem naturalmente,
desaparecem nessa multidão de nadas
que nós chamamos de famílias,
cidades,
nações.

Mas o destino não é o único culpado
nós desperdiçamos
nossas oportunidades,
nós estrangulamos
nossos próprios corações.

Uma pena, uma pena, uma pena.


Hoje nós somos cidadãos do nada.
O próprio sol sabe a triste verdade
de como nós rendemos as nossas vidas
e mortes a um mero ritual,
um inútil e covarde ritual,
e então se esquivando da face da glória,
transformando nossos sonhos em merda,
como nós dissemos
não, não, não, não,
pra o mais belo
SIM
jamais pronunciado:

A própria vida. 






















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