domingo, 29 de novembro de 2020

 






Meu Truque do Desaparecimento


"Quando eu enchia o saco de ficar no bar
e às vezes eu enchia,
eu tinha um lugar para ir:
era um campo de capim alto
de 
um cemitério abandonado.
Eu não via aquilo como sendo um
passatempo mórbido.

Aquele só me parecia ser o melhor
lugar para estar.
Ele oferecia uma generosa cura para
ressacas violentas.
Através do capim dava para ver
as lápides,
muitas pendiam em ângulos estranhos
contra a gravidade,
como se precisassem cair
mas nunca vi nenhuma cair,
embora houvesse muitas delas
no cemitério.

Era fresco e escuro
com uma brisa
e várias vezes eu dormia lá.
Nunca fui incomodado.

Toda vez que eu retornava para o bar
depois de uma ausência
era sempre a mesma história com eles:
“onde diabos você andava? 
achamos que você tinha morrido!”

Para eles eu era o monstro do bar, 
eles precisavam de mim
para que se sentissem melhor.
Assim como eu, às vezes, 
precisava daquele
cemitério."





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