domingo, 6 de dezembro de 2020

 




Hospícios


"Já vi gente mais louca aqui fora - em tudo quanto é lugar que se olhe: nas lojas de ocasião, nas fábricas, agências de correio, butiques especializadas em animais de estimação, nas partidas de beisebol, nos escritórios políticos - do que lá dentro. Volta e meia me perguntava por que estariam assim confinados. Tinha um cara, bastante legal, podia-se falar facilmente com ele, se chamava Bobby, que ninguém dizia que era louco; parecia aliás, bem mais normal que alguns psiquiatras que pretendiam nos curar. Impossível conversar com eles, por rápido que fosse, sem também acabar se sentindo maluco. O motivo da maioria se dedicar a essa profissão é porque vive preocupada com a própria sanidade mental. E examinar a cuca da gente é a pior coisa que um louco pode fazer, todas as teorias em contrário não passando de papo furado.


Bom seja lá como for, voltando à vaca fria - os casos mais adiantados (no sentido de mais próximos, aparentemente da cura) tinham licença para sair às 2 da tarde, nas segundas e quintas, e precisavam regressar lá pelas 5 e meia pra não perder essa regalia. Isso se baseava na teoria de que a gente podia se adaptar, aos poucos, à sociedade. Sabe como é, em vez de simplesmente passar direto da enfermaria dos loucos pra aqui fora na rua. Basta olhar ao redor pra logo querer voltar lá pra dentro. Depois de ver todos os outros malucos que têm aqui fora." 






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