segunda-feira, 12 de outubro de 2020

 




Recitais de Poesia

"Recitais de poesia devem ser 
o que há de mais triste e abominável,
a reunião dos membros e membras do clã,
semana a semana, mês a mês, ano a ano,
envelhecendo juntos, 
recitando em pequenos encontros,
ainda na esperança de que seus gênios 
sejam descobertos,
gravando fitas juntos, discos juntos,
suando por aplauso.

Basicamente eles recitam uns para os outros,
não conseguem encontrar um editor de Nova York
ou nenhum em quilômetros,
mas eles não param de recitar
nos buracos de poesia da América,
jamais desanimam,
jamais consideram a possibilidade 
de seus talentos serem franzinos, quase invisíveis,
eles não param de recitar
diante de suas mães, suas irmãs, seus maridos,
suas esposas, seus amigos, outros poetas
e um bando de idiotas que surgem do nada.

Tenho vergonha por eles,
tenho vergonha por eles terem que apoiar uns aos outros, 
tenho vergonha por seus egos balbuciantes, 
sua falta de coragem.

Se esses são os nossos criadores,
por favor, por favor me deem algo mais:

Um encanador bêbado numa pista de boliche.
um garoto de preliminares numa luta de 4 rounds,
um jóquei conduzindo seu cavalo pela cerca,
um barman na última rodada,
uma garçonete me servindo um café,
um bêbado dormindo numa porta abandonada,
uma cão mascando um osso seco,
um elefante peidando numa tenda de circo,
um congestionamento na estrada às 6 da tarde,
o carteiro contando uma piada suja,

Qualquer coisa,
qualquer coisa,
menos isso."


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