segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 





Um Poema para a Velha Dente-Podre


"Conheço uma mulher
que segue comprando quebra-cabeças,
quebra-cabeças chineses
blocos, arames, 
peças que finalmente se encaixam
numa espécie de ordem.

Ela se dedica à questão
de modo matemático,
resolve todos os seus
quebra-cabeças,
vive perto do mar,
põe açúcar para as formigas lá fora
e acredita
definitivamente
num mundo melhor.

Seu cabelo é branco,
raramente o penteia,
seus dentes são podres
e ela veste macacões frouxos
e amorfos sobre um corpo que a maioria
das mulheres desejaria ter.

Ao longo de muitos anos ela me irritou
com o que eu considerava suas
excentricidades:
como mergulhar conchas na água
(para que ao regar as plantas, elas
recebessem cálcio).

Mas finalmente quando penso
na sua vida
e a comparo a outras vidas
mais deslumbrantes, originais e belas
percebo que ela machucou menos gente
do que qualquer outra pessoa que conheço
(e com machucar quero dizer simplesmente machucar).

Ela enfrentou alguns momentos terríveis,
momentos em que talvez eu devesse tê-la
ajudado mais,
porque era a mãe da minha única filha
e uma vez fôramos grandes amantes,
mas ela havia superado essas dificuldades.

Como eu disse,
das pessoas que conheço ela foi a que machucou
menos gente,
e se você olhar para isso pelo que isso significa,
bem,
ela criou um mundo melhor.
Ela venceu.

Frances, este poema é pra
você.




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