domingo, 7 de fevereiro de 2021




Trégua 



"...Um cigarro pendurado, 
ela é meio doida, procurando uma saída; 
ela é forte, tem medo, 
foi enganada, levada, abusada, usada,
excessivamente usada...

No entanto, sob tudo isso, 
para mim ela é a flor, 
eu a vejo como era antes de ser arruinada 
pelas mentiras: as deles e as dela.

Pra mim, ela é nova outra vez 
como também sou novo: 
temos uma chance juntos.

Vou até ela e encho seu copo: 
“você tem classe, boneca, 
você não é como as outras...”

Ela gosta disso e eu também gosto, 
porque para tornar uma coisa verdadeira
tudo que você precisa fazer é acreditar.

Eu me sento na frente dela 
enquanto ela me fala de sua vida,
mantenho cheio o copo dela,
acendendo seus cigarros, 
escuto e a Cidade dos Anjos escuta: 
ela passou por maus bocados.

Fico sentimental e decido não comê-la: 
um homem a mais para ela não vai ajudar 
e uma mulher a mais para mim não fará
diferença – além disso, ela não é lá muito
atraente.

Na verdade, sua vida é chata
 e um tanto comum, mas a maioria é 
– a minha também
exceto quando elevada pelo uísque.

Ela cai num choro incontrolável, 
ela é uma gracinha, mesmo, 
e dá pena, tudo o que ela quer
é o que ela sempre quis,
só que está ficando cada vez mais distante.

Então ela para de chorar, 
nós apenas bebemos e fumamos, 
baixa uma paz –
não vou incomodá-la nessa noite..."


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